O olho rútilo e a baba elástica e bovina do crioulo gritando a plenos pulmões: MENGO!

domingo, 30 de janeiro de 2011

Dois tempos, dois jogos...



Finalmente Thiago Neves estreou pelo Flamengo... E em grande estilo, com direito a golaço em clássico. O jogo contra o Vasco foi um jogo estranho. Foi exatamente o tipo de jogo para fazer valer a máxima "Clássico é clássico".  E vice versa. Mas foi isso o que ocorreu: em um tempo, o Flamengo poderia ter massacrado um Vasco que atuou como time pequeno. Amigos, o Vasco foi um time pequeno no primeiro tempo, e daí era o prenúncio de uma goleada inelutável do Flamengo. Porém, no segundo tempo não foi assim. O Vasco voltou a ser grande, se não grande, pelo menos mostrou vontade de honrar a camisa da 'Colina Histórica'. Se no primeiro tempo o Vasco dependeu apenas de lampejos de Jeferson, sendo totalmente dominado por um Flamengo que marcou no campo do adversário e tocava a bola com inteligência e habilidade, com boas viradas de jogo, numa noite inspirada de Léo Moura e Thiago Neves. Até o Egídio jogava bem, participando diretamente da jogada do primeiro gol.

Mais patético que o Vasco, porém, foi o árbritro Marcelo de Lima Henriques, um dos mais superestimados do futebol carioca. Num lance biazarro na linha de fundo, protagonizado pelo melhor jogador do Vasco, no primeiro tempo, Jeferson, que sozinho dá uma "furada excepcional", como diria o saudoso Jorge Curi, e acaba tropeçando nas próprias pernas, o árbitro resolve marcar uma falta que não houve. O "soprador de apito", como diria o  não menos saudoso "titio" Mario Vianna, com dois enes, andou invertendo faltas e por pouco não complica um jogo disputado lealmente entre dois grandes rivais. Pergunto-me se o Vasco ainda é grande, porque pelo primeiro tempo, vi times pequenos como o Olaria ou o Americano mostrarem bem mais que o ex-Gigante da Colina.

Porém, como diria outro saudoso locutor do rádio, Waldir Amaral, Thiago Neves, "indivíduo competente, foi ele que botou lá dentro, tem peixe na rede do Vasco, choveu na horta do Mengão", faz um belíssimo gol, coroando uma boa atuação, marcada por muita movimentação, criando boas oportunidades, como uma em que entra pela lateral da área, driblando e chutando na rede pelo lado de fora. Seu gol foi um fecho de ouro  de um soneto, no fim do primeiro tempo. Aliás, é forçoso reconhecer que o Flamengo chegou a começar bem o segundo tempo, ainda com Thiago Neves, infernizando a defesa vascaína, até a parada técnica, aos 20 do segundo tempo, quando pediu ao técnico para sair. 

As substituições, de Thiago Neves por Marquinhos e Deivid por Wanderlei, quebraram um pouco o ritmo do time e deram ao Vasco a chance de se tornar Vasco. Ou talvez tenham nivelado os dois times por baixo, e numa falha bisonha do zagueiro Wellinton, reforçando os argumentos de que a a maior fragilidade do atual time do Flamengo está em sua defesa, o Vasco faz um gol aos trinta minutos e acaba tomando o fôlego que jamais tivera na partida. Aliás, é forçoso dizer que o gol do Vasco se deu em um festival de falhas da defesa. Felipe sai do gol e não acha absolutamente nada, Léo Moura salva embaixo das traves e Wellinton, que desde a chegada de Vanderlei Luxemburgo revelou-se um típico "zagueiro zagueiro", cometeu uma falha típica de seus piores momentos. Gol de Rômulo e mais quinze minutos de sufoco para o Flamengo. 

Sofrida, enfim, a vitória veio. Veio, no entanto, revelando as muitas fragilidades e os problemas vistos durante o campeonato brasileiro: sem suas estrelas, o Flamengo é um time apenas mediano que ainda precisa de reforços, principalmente, para compor seu elenco. Falta uma alternativa consistente à má fase de Deivid e um zagueiro experiente. Dizem que a janela do meio ano traria Vágner Love para o ataque e Juan para a defesa. Dois reforços de altíssimo nível que tornariam o Flamengo um time fortíssimo. Um bom lateral faria muito bem ao time, mas tudo indica que Renato Abreu será a escolha de Vanderlei, que utilizaria ainda o argentino Botinelli no meio de campo. As chegadas de Ronaldinho e Botinelli irão dar algumas alternativas ao time. Não me parece que vá ocorrer um desastre que deixe o Flamengo fora das semifinais da Taça Guanabara. Vencer o primeiro turno seria uma boa condição para o Flamengo montar um grande time no primeiro semestre e vencer os dois primeiros títulos deste começo de temporada: ganhar o Carioca e Copa do Brasil. 

Como venho repetindo: Quem viver, verá!!!

P.S.1: As piadas são inevitáveis: "Se o trema que tinha dois pontos, caiu, o que vai acontecer com o Vascão????"

P.S.2: Obrigado à freguesia... Voltem sempre!

P.S.3: O que foi o gol de Marta na preliminar do clássico paulista Santos x São Paulo? Acho que fazer aquilo com a camisa 10 do Santos só um homem fez. E agora, uma mulher, Marta.

Curtinhas...

  • Essa história de briga entre Loco Abreu e Papai Joel já deu o que tinha que dar. Enquanto o time estiver vencendo, não tem crise certa... 
  • Julio Cesar provou hoje porque não pode ser preterido em nenhuma lista de técnico de seleção brasileira. Pegando um penalti enquanto a Inter de Milão ainda perdia de 2 x 1, e salvando um gol no final do jogo, com uma defesa excepcional, entre as muitas que fez durante o jogo, ele ainda é o melhor e mais experiente goleiro do Brasil. Maicon volta a jogar bem, assim como o zagueiro Lúcio. Deixá-los de fora pode ser uma opção visando as olimpíadas, mas pelo que jogam, não devem nada ao Luisão e ao, para mim, superestimado David Luiz.
  • Fred está jogando muito. É centroavante para seleção brasileira. Se as contusões não atormentarem o craque tricolor neste primeiro semestre, ele tem grande chance de pintar na Copa América. 
  • E o Deco, hein? Será que vai jogar algum dia pelo Flu? Ouvi na Rádio Tupi que a Unimed, apesar de negar, já pensa em rescindir o contrato do jogador. 
  • Sai chinelinho, entra sandália... A briga entre Cuca e Roger no Cruzeiro pode fazer o jogador pintar por aqui no Rio, no Vasco, numa troca por Carlos Alberto, que interessaria ao treinador Cuca. Exótico o prato que está preparando o mestre Cuca, que tem o excelente Montillo como titular.

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

O homem velho

"O homem velho deixa vida e morte para trás
Cabeça a prumo segue o rumo e nunca, nunca mais
O grande espelho que é o mundo ousaria refletir os seus sinais
O homem velho é o rei dos animais" (Caetano Veloso)


Petkovic - Foto Marcia Feitosa (fonte: http://globoesporte.globo.com)


Ouvindo a canção de Caetano, após ler uma crônica de Eliane Brum, convidando-nos a nos colocarmos na pele do outro para sentir aquilo que o outro sente. No entanto, ao pensar no homem velho de sua crônica, a música de Caetano veio imediatamente em minha mente e, invariavelmente, fui obrigado a pensar no gringo Petkovic e sua situação no Flamengo. Devo dizer, antes de tudo, que sou fã declarado do jogador que melhor vestiu a camisa dez do Flamengo na última década. Sim, a primeira década do século XXI no Flamengo foi a década de Petkovic. 

Num papo com outros rubro negros, dizia-se exatamente que Petkovic foi um dos protagonistas de duas das principais conquistas do Flamengo na década que se encerrou no ano passado: o tricampeonato 99-00-01 e o título brasileiro de 2009. Pet aparece como o principal responsável pelos lances e gols decisivos na abertura e no fechamento da década. Em 2001, nem é preciso comentar a importância de Pet no jogo final contra o Vasco, o passe perfeito na cabeça de Edílson na grande jogada pela esquerda e aquele gol mágico, uma das mais perfeitas cobranças de falta que já pude ver em minha vida. Oito anos depois Petkovic volta ao Flamengo, empurrado pela goela do então técnico Cuca e da diretoria de futebol, gerando uma crise (qualquer formigueiro no campo da Gávea torna-se razão para uma crise no Flamengo) que culminou com a demissão da direção do futebol do Flamengo. De um acordo feito para minimizar os efeitos de contratos perniciosos com o Flamengo, veio o retorno de um ídolo, cercado de desconfiança, é verdade. Mesmo o mais crédulo e apaixonado rubro negro vacilava diante da volta do gringo. O que Pet havia feito pelo Flamengo todos já sabiam, o que ninguém sabia era o que ele ainda poderia fazer.

Mas Pet brilhou no seu retorno. Foi decisivo em pelo menos três partidas fundamentais na conquista do título: os jogos contra São Paulo, Palmeiras e Atlético Mineiro. Além disso Pet cobrou o escanteio que resultou no gol do título, de Ronaldo Angelim. O papel que Pet desempenhou neste título de 2009 pode ser comparado àquele desempenhado por Júnior no título de 1992. Júnior foi o Maestro, o ponto de equilíbrio daquele time. Pet foi, indubitavelmente, o principal solista, o spalla da orquestra rubro negra no título brasileiro.

O ano de 2010, no entanto, foi ingrato para os ídolos rubro negros. Parecia que fechávamos uma década e um ciclo de vitórias da forma mais perversa e infeliz possível: confusões, crises repetidas, egos inflados, fracassos. O primeiro semestre de 2010 foi uma peça grotesca que anunciou um ano onde tínhamos tudo para dominar de modo absoluto o futebol brasileiro e tropeçamos nos nossos maiores erros: a desorganização e a falta de um planejamento sério, os contratos lesivos e o comportamento desrespeitoso de jogadores e dirigentes com o Flamengo, com a sua história e seus ídolos. 

Primeiro ato: a melhor partida do Flamengo no ano, a sensacional virada no Fla x Flu, escondeu as crises que estavam por vir, mas já anunciava as primeiras tempestades: no intervalo do jogo onde atuava pessimamente mal, Petkovic é substituído e abandona o vestiario. O episódio começava a revelar as fraturas no elenco e na relação do técnico Andrade com os jogadores. Na sequência disto os problemas envolvendo Adriano, que iam desde as páginas de fofoca dos jornais às páginas policiais, Vágner Love que acabou indo parar também nas páginas policiais e o pior de todos os casos, o desaparecimento de Eliza Samudio, no qual estava envolvido o goleiro Bruno. E há ainda que ouse falar em uma "Fla-Press"...

O resultado disto tudo foi a demissão de Andrade e um descaminho total com o qual sonhávamos que terminasse com a chegada de Zico à direção do futebol do Flamengo. Somente a realização de um sonho para apagar a realidade de pesadelo que vivia a torcida do Flamengo. Mas infelizmente, a situação que envolveu Andrade obrigava-nos a uma reflexão sobre como o clube, leia-se bem, o clube, não a torcida, trata os seus ídolos. O Zico diretor de futebol saiu (ou quem sabe foi expulso?) do Flamengo pela porta dos fundos e sem deixar saudades. Não vou entrar no mérito sobre a gestão de Zico e dos problemas e resistências que teria enfrentado no clube para implementar um modelo de gestão menos lesivo ao clube do que aqueles que o clube experimentara anteriormente. Como craque do Flamengo e do futebol mundial, Zico é indiscutível. Como dirigente, nada posso afirmar pois nunca o conheci de perto nesta função. O que ele diz é que não tinha autonomia e nem poderes para gerir o futebol do Flamengo. Mas ele deu as devidas explicações que para mim são suficientes para preservar a sua imagem sagrada. Até os deuses podem errar.

O que se nota, no entanto, é que o lugar dos ídolos no Flamengo é sempre frágil. Andrade, Zico, Adílio, Nunes, Junior, para falar da geração que eu vivi e que encantou o mundo, mas a lista é ainda mais extensa e cheia de nomes de diversas gerações. E hoje Petkovic está neste lugar, da fragilidade, do ídolo incontestável que não tem mais espaço no Flamengo. O que Pet foi, todos nós já sabemos, o problema tem sido o que ele não é mais. Ou o que ele ainda poderia ser. Em 2009, antes de retornar ao Flamengo, a diretoria do futebol na época afirmava cabalmente que Pet não jogaria no Fla e que teria, no máximo, um jogo de despedida com a camisa rubro-negra. Pet foi um dos heróis do título. O ano de 2010, porém, foi ingrato para todos, inclusive para ele próprio. Mas e agora? Será que chegou a hora do veterano craque se despedir? O Flamengo, com as contratações de Ronaldinho e Thiago Neves, parece prescindir do talento de Petkovic, especialmente porque sua forma física não é, definitivamente, das melhores. 

Porém, pergunto, é justo que Petkovic saia pela porta dos fundos junto com Val Baiano, por exemplo? 

Não creio. Olho para Petkovic, aos trinta e oito anos, e vejo um homem velho. Que paradoxo. Petkovic é mais novo que eu... No entanto, solitário, ele sabe que já é imortal como o homem velho da canção de Caetano. 




quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

RG = RC

 Foto: Emílio Domingos

Eu deveria estar falando da brilhante conquista dos meninos da Gávea na Copinha. De fato, foi o que dominou este coração rubro-negro no dia de ontem: a nova geração começa com talentos brilhantes, como o sensacional goleiro César, que já nos acréscimos garantiu a vitória com uma defesa mágica. Ou do brilhante Guilherme Negueba, que em certos momentos evoca a imagem de Geraldo Assobiador, tal a elegância com que desfila suas pernas negras e finas, alternando o ritmo entre passadas largas e passes precisos. Poderia falar também do chapéu do Luís Felipe "Muralha" ou do pequenino e abusado Rafinha. A imprensa quase que esgotou o assunto. O Olho Rútilo viu e registrou.

Mas meu grande amigo e seguidor Fred Coelho e a foto do meu outro grande amigo Emílio Domingos chamaram a minha atenção para um fato novo no futebol carioca. E ainda que o Olho Rútilo não estivesse presente para ver, os olhos da câmera de Emílio registraram e por isso eu posso falar...

Todos sabemos que historicamente os jogadores de futebol tem desde antanho ligações com o mundo do samba. Encontrados frequentemente em boates da Barra da Tijuca, em "pagodes" de gosto pra lá de duvidoso, jogadores de futebol nem sempre são conhecidos pelo seu bom gosto musical. Estes também costumam frequentar os camarotes de cervejarias junto com "celebridades" durante o carnaval e alguns até vestem fantasias e saem escolas de samba. Há ainda os que frequentem as quadras das escolas durante o período de ensaios. Diogo Nogueira, filho do grande João Nogueira, era amigo pessoal de Adriano, assim como os rubro negros Dudu Nobre e Ivo Meireles, presidente de Estação Primeira de Mangueira. 

Porém, nada disto chega a se comparar com o que podemos ver na foto acima. Retrocedo ainda um pouco mais, antes da foto de ontem, tirada no Instituto Moreira Sales, em homenagem prestada ao grande sambista Monarco, que na foto aparece com Timbira, em primeiro plano, e atrás, Mauro Diniz, filho de Monarco, e Paulão 7 Cordas. Vamos cruzar a Baía de Guanabara e ir até "a melhor roda de samba do Rio, que fica em Niterói", segundo Pedro Amorim, no Candongueiro, onde somos mais do que obrigados a dar razão ao brilhante compositor e bandolinista: sim, o Candongueiro é uma das melhores rodas de samba do Rio, pela qualidade dos músicos, pelas suas atrações, que reúnem o melhor do samba carioca, pelos frequentadores... Sim, o Candongueiro tem frequentadores ilustres  no mundo do samba, mas também do futebol como o nosso querido Ronaldinho Gaúcho. Aliás, cada vez menos gaúcho, mais comprovadamente carioca. 

Nada contra o sentimento regionalista dos gaúchos, que tem seu valor, mas desde que despontou para o futebol, R10, ou simplesmente, Ronaldinho (sem o "Gaúcho", usado para diferenciá-lo do outro, o "Fenômeno") pela picardia e deboche de seu futebol pouco ou quase nada tinha a ver com o futebol gaúcho. Jogando num estilo conhecido no sul como "faceiro", um futebol de dribles e jogadas de efeito, que pouco tem a ver com o estilo de "força", cunhado e consagrado pelo clube no qual foi revelado, o Grêmio, Ronaldinho mostrava deste então uma espécie de alma carioca aprisionada pelo duro verniz do gauchismo. Amante do samba, escolheu como tema da sua vida e da historia de sua família o clássico de João Nogueira, "Espelho", e assim como o poeta sambista, "se abraçou na bola e pensou ser um dia um craque da pelota ao se tornar rapaz". Quem não se recorda da seleção pentacampeã e seu hino, "Deixa a vida me levar", e a ginga do moleque que brilhou ao lado de Rivaldo e Ronaldo Fenômeno, o coadjuvante de luxo da seleção do Felipão, o menino dentuço cheio de molejo sambando após marcar o golaço, um dos mais lindos da historia das copas e dos títulos brasileiros. Nada mais carioca que as comemorações deste Gaúcho no samba.

Ronaldinho dispensou as bombachas, colocou uma camisa listrada em vermelho e preto, vestiu uma calça de linho S-120 branca e um sapato bicolor. Trocou a boina por um chapéu panamá com fita vermelha, pegou um pandeiro e caiu no samba. 

Dirão os chatos de plantão: "pronto! agora só falta calçar o chinelinho". Eu respondo que muitas vezes encontrei o "Capacete" Júnior curtindo suas folgas - e Ronaldinho estava de folga -  nas quadras de Salgueiro e de Mangueira, sambando a noite toda, tomando uma cervejinha (e olhem, Ronaldinho não bebeu nada enquanto esteve no Candongueiro) e arrebentando nos campos, indiferente à patrulha irritante que hoje se faz aos jogadores de futebol - lembro ainda que Pelé e Garrincha fugiram algumas vezes da concentração na Copa da Suécia, sendo que nosso "Anjo das Pernas Tortas" deixou sua semente por lá. Que importa tudo isso? E se ele entrar em campo e arrebentar? O Mano Menezes deu sinais de que, se Ronaldinho estrear bem pelo Flamengo, uma boa sequência de jogos dará a ele nova chance na seleção.

Ora, Ronaldinho sempre foi carioca, escolheu o Flamengo porque o "Flamengo é o Flamengo". E nada traduz mais a alma carioca que o Flamengo. 

Mas outro detalhe chamou ainda mais atenção: Ronaldinho no IMS em um show de samba em homenagem a um dos ícones da Velha Guarda da Portela, Monarco. A foto não deixa mentir: sentado na primeira fila, de touca, ao lado de Monarco. A imprensa esportiva apurou, a foto de meu amigo Emílio não deixa dúvida. Finalmente, ao invés dos "pagodes de playboy da Barra", jogadores de futebol começam a cultivar os grandes redutos do samba carioca. Não me admira se no próximo domingo, depois do Flamengo e Vasco, Ronaldinho possa aparecer no Bip Bip ou no Cacique, para comemorar uma vitória do Mengão e aliviar a ansiedade em torno da estreia, dentro de uma semana. Vamos ver Ronaldinho na Lapa, no Carioca da Gema ou no Semente, tocando pandeiro junto com Paulão 7 Cordas, Mauro Diniz, dando canjas com meus amigos o vascaíno Moiseys Marques e Edu Krieger, e de quebra, brilhando com a 10 rubro negra, como outrora brilharam Zico, Júnior e alguns craques das noitadas e dos campos, como Romário, o também Gaúcho, Renato, o saudoso "gringo" Doval. 

Ronaldinho não precisa de atestado de político algum para notificar sua "carioquidade". Sua ginga, seu jeito, seu modo de jogar futebol, "faceiro", tem tudo a ver com o futebol carioca. Como foi feliz em Barcelona, Ronaldinho tem tudo para ser ainda mais feliz no Rio, no Flamengo, uma espécie de síntese desta cidade.

O melhor disto é uma espécie de "novo paradigma" para os jogadores de futebol: saem o "pagode paulista" e seus gemidos e o "breganejo", e entra o bom samba carioca. Quem sabe, deste modo nos livramos de monstruosidades como "sertanejo universitário" e vemos jogadores de futebol frequentando as escolas e grandes rodas de samba da cidade? Quem viver verá...



sábado, 22 de janeiro de 2011

Ouro desça do seu trono

Na tarde de hoje será travada uma batalha fundamental para o futebol brasileiro na Copa São Paulo de Juniores, a "Copinha". Joga-se esta tarde o presente e o futuro do futebol brasileiro, não apenas por envolver as futuras gerações de jogadores do Brasil, mas porque é um jogo que envolve o clube de maior torcida do Brasil, um dos mais tradicionais do nosso futebol, um clube cuja estréia no futebol tem quase 100 anos, um clube de 115 anos de existência, e um clube do interior paulista, um clube recente, de pouco mais de 6 anos. O leitor vai se perguntar: "ora Zé, o que tem isso demais?".

Mais do que um jogo que colocará a nova geração do Flamengo diante de sua primeira decisão importante, mais do que semear o futuro do Flamengo, entrarão em conflito dois modelos do futebol brasileiro: de um lado, um clube "de camisa" (e que camisa, digo eu), uma marca que, antes de ser comercial, é uma marca de um estilo, cercada de significados, representando um era de nosso futebol que está para além do futebol como mero negócio (e que negócio, digo eu). O Desportivo Brasil não é apenas um clube empresa, mas um clube de empresários. O clube pertence à empresa de marketing esportivo Traffic, uma das principais operadoras na contratação de Ronaldinho Gaúcho pelo Flamengo, proprietária de diversos jogadores de nosso futebol, como Kléber, "Gladiador", Diego Souza, entre outros...

Nos anos 80, quando a levantadora Jacqueline, a Jackie Silva do volei de praia, se transferiu do Flamengo para a Supergásbras, a partida que envolveu as duas equipes, substituiu o clássico mais importante do volei feminino em nosso país, o Fla x Flu, uma época romântica do esporte onde as jogadoras da seleção brasileira, Isabel, a ponteira e]Eliane e Jaqueline, brilhavam do lado do Fla, e a levantadora Célia, Heloísa e Dulce, do lado Flu. A entrada da Supergásbras no volei feminino desequilibrou o campo de forças no qual gravitavam as equipes no volei brasileiro e praticamente nunca mais houve um grande clube que tivesse uma grande equipe de volei. A exceção foi a temporada 2000/2001 cuja decisão envolveu o Flamengo e o Vasco, que montaram naquele ano equipes recheadas de estrelas do nosso volei como Virna e Leila, pelo lado do Flamengo, a levantadora Fernanda Venturini e a líbero Fabiana, pelo lado do Vasco. O fato é que a entrada das empresas no volei, praticamente tirou os grandes clubes do negócio.

Sem querer discutir as vantagens deste processo no sucesso internacional de nosso volei, que se tornou uma potência indiscutível no esporte, é engraçado ver aquelas torcidas uniformizadas com a marca de uma empresa, como o "Rio de Janeiro", que já foi Rexona, depois Rexona/Ades e hoje é Unilever, ou ainda o Finasa/Osasco, que já foi BCN/Osasco e é a atual equipe campeã, com o nome de Sollys/Osasco. Lembro ainda que a equipe "Rexona", já foi do Estado do Paraná, mas transferiu-se para o Rio de Janeiro. Mas são as vicissitudes de clubes empresa no negócio do esporte. Aos clubes restam ainda as divisões de base e a formação nas escolinhas, que acabam por vezes fornecendo estrelas aos clubes-empresa, caso do Nalbert,  por exemplo, que jogou pela base do Flamengo e como jogador adulto nunca jogou pelo clube, que não tem uma equipe de volei masculino adulto há pelos menos 10 anos, ainda que os clubes-empresa realizem anualmente "peneiras" para formar as suas escolinhas.

No futebol, no entanto, dado o seu caráter de esporte de massa, um clube de empresários soa estranho. Se para o torcedor, especialmente no episódio da contratação de Ronaldinho Gaúcho, houve um vilão preferencial, o empresário do jogador, seu irmão, Roberto Assis, que não por acaso é dono de um clube de futebol no Rio Grande do Sul, o "Porto Alegre", fundado em 2006, imaginem como vamos encarar um clube que pertence à Traffic ou as outros empresários? Não se trata de eleger os empresários como vilões do nosso futebol, mas é preciso ter claro que num esporte onde "beijar a camisa" não significa necessariamente "amor à camisa" (sempre repito: Zico e Roberto Dinamite nunca beijaram, respectivamente, as camisas de Flamengo e Vasco, e não pode haver jogadores mais identificados com seus clubes quanto eles), os empresários são aqueles que estão criando e consolidando um modelo onde o clube de massa será sempre uma mera vitrine e balcão de negócios para eles. 

E a torcida? A torcida vai se tornar aquele grupinho uniformizado com uma marca, ocupando um setor das arquibancadas de um estádio, animada por "cheerleaders" vestidas com roupas sensuais e danças acrobáticas? 

O Flamengo joga o futuro do futebol brasileiro. Joga para colocar alguma coisa em algum lugar. E o grande paradoxo é que neste momento em nosso futebol, nenhum clube representa melhor a ideia de business e esporte do que o Flamengo, desde a contratação de Ronaldinho. Fico me perguntando, romântico, por que o Flamengo seria diferente do Desportivo Brasil? O clube dos empresários põe a nu uma realidade de nosso pobre futebol: os negócios falam mais alto. 

Fecho com as palavras de Paulo da Portela imortalizada pela voz de Candeia:

Ouro Desça Do Seu Trono

Ouro desça do seu trono
Venha ver o abandono
De milhões de almas aflitas, como gritam
Sua majestade, a prata
Mãe ingrata, indiferente e fria
Sorri da nossa agonia

Diamante, safira e rubi
São pedras valiosas
Mas eu não troco por ti
Porque és mais preciosa
De tanto ver o poder
Prevalecer na mão do mal
O homem deixa se vender
A honra pelo vil metal

Nessa terra sem paz com tanta guerra
A hipocrisia se venera
O dinheiro é quem impera
Sinto minha alma tristonha
De tanto ver falsidade
E muitos já tem vergonha
Do amor e honestidade

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

O futuro do Mengão ou o Mengão do futuro...



Imagino que os leitores deste blog esperassem que eu fizesse algum comentário sobre a estréia do Flamengo no Campeonato Carioca - não me acostumo com a ideia de chamar o "Carioca" de "Campeonato Estadual. Embora o antigo "Carioca" envolvesse apenas as equipes do extinto Estado da Guanabara, e atualmente o certame regional conte com a participação de equipes da Baixada Fluminense (Duque de Caxias e Nova Iguaçu), da Região dos Lagos (Cabofriense e Boavista - de Saquarema), do Interior do Estado (Macaé, Americano), do Vale do Paraíba (Resende e Volta Redonda), além das equipes do Rio de Janeiro: os quatro grandes, Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo, o América e as equipes do subúrbio, o Madureira, o Bangu e o Olaria, acho que é mais charmoso chamar o campeonato do Estado do Rio de Janeiro de campeonato CARIOCA.

Estreou o Flamengo e deu-se o óbvio: mesmo sem ser brilhante o Flamengo venceu ao Volta Redonda. Brilhou a estrela do goleiro Felipe, com duas boas defesas quando foi exigido, apenas para constar que estivesse em campo. Léo Moura com a eficiência de sempre foi um motorzinho do time, fazendo um belíssimo cruzamento para o gol da surpresa do jogo, o atacante Wanderley, que não me impressionara no "ensaio" contra o América-MG, mas mostrou ótima movimentação e um gol de centroavante típico, bem colocado na área, boa cabeçada. Outra obviedade é que as mexidas do técnico Vanderlei Luxemburgo deram outra movimentação e espírito ao time, com a saída do burocrático Fierro e a entrada de Marquinhos, jogador que já no ano passado apareceu bem, com boa movimentação e o próprio Wanderley que além do gol, fez uma bela tabela com Marquinhos que quase resultou em um terceiro gol. O primeiro gol, atribuído ao meia-atacante Vander, em verdade um gol contra do zagueiro, foi um belo cartão de visitas do garoto vindo do Bahia, que já brilhara com um gol contra o América-MG. Será realmente um ótimo jogador para compor um elenco forte. 

No entanto, as notas desanimadoras estão por conta do atacante Deivid, que alguns começam a achar que "nunca tenha sido um 'atacante de área'" ou que esteja "sacrificado pelo esquema do Luxemburgo", ou ainda, "que vai render mais quando os grandes reforços estrearem na temporada". O problema é que estamos esperando Deivid "render" desde agosto do ano passado, quando ele chegou ao clube e estreou "fora de forma", na "pressão pelos resultados", enfim, o que se supunha ser a razão de seu baixo rendimento em 2010, parece ser a constante, ou um problema crônico de um aatcante que vimos brilhar em Santos e Cruzeiro, mas que hoje não é nem sombra do que teria sido naquela época. Sobre Egídio e Renato Abreu, há pouco a acrescentar, senão que o primeiro inspira a necessidade da contratação urgente de um lateral esquerdo para ser titular, e o segundo, bem, ora, o nosso "Canelada" é aquilo de sempre: disposição e chute forte. Muito pouco para ser titular. Willians também não está, ainda, no seu melhor. Mas vai crescer. 

Porém, esta postagem não é para falar do presente, mas para falar do futuro... Acabo de assistir ao jogo da seleção brasileira Sub-20, e ver em ação o nosso Diego Maurício, o "Drogbinha". Confesso que fiquei triste pelo fato de que ele não aproveitou em gols as boas oportunidades que teve, mas se movimentou muito e foi responsável pelo cruzamento que resultou no primeiro gol do time. Se Deivid não se acertar, o garoto vem com tudo para se tornar titular do ataque do Flamengo, embora fique cada vez mais claro que a opção de nosso treineiro deverá ser mesmo o seu xará Wanderley, jogador com características de jogar mais centralizado. Decepcionou-me também saber que Ney Franco preferiu o lateral Danilo, do Santos, ao nosso Rafael Galhardo, que me parece muito melhor que o primeiro. Aliás, foi por aquele setor que a Colômbia deu os maiores sufocos no time brasileiro durante a partida: nas costas do lateral Danilo e em cima do, na minha modesta opinião, superestimado Bruno Uvini, zagueiro do São Paulo, que cometeu um penalti bobo, que resultou no gol da Colômbia. Galhardo me parece mais jogador que o atleta do Santos. Mas é este olho rútilo e a baba elástica pendente que sempre me impedem de ver a verdade (ou a vida) como ela é. Ora, qualquer jogador do Flamengo é melhor que qualquer um outro... Basta vestir o Manto Sagrado que se tornará imediatamente um craque consagrado. Às vezes sinto que é isto que falta a um Deivid ou a um Egídio para tornarem-se craques indiscutíveis: acreditar na mística e nos poderes do Manto... Vejam o Charles Guerreiro, de volante medíocre, tornou-se lateral de seleção brasileira, com direito a jogar em Wembley (e perder um gol bizarro isolando a bola para fora do estádio) - penso que se estivesse com o Manto por baixo da camisa da seleção, não apenas faria aquele gol, mas faria mais dois e daria passes decisivos para outros três. Penso que todo jogador de seleção deveria vestir por baixo da camisa canarinho a camisa do Flamengo. Provavelmente despertaria neles aquele élan que Nelson Rodrigues fala em sua memorável crônica.

Mas de fato, não é também sobre a seleção sub-20 que eu quero falar, posto que em realidade, há apenas dois (bons) jogadores rubro negros em ação naquele time. Quero falar dos meninos da equipe juvenil, atual campeã carioca, que estão simplesmente arrebentando na chamada "Copinha", a Copa São Paulo de Futebol Junior. Ao ver aquele menino, Guilherme Negueba, com aqueles cambitos que lembram as infalíveis varetas de Jair da Rosa Pinto que liquidaram com o Arsenal, numa época onde os ingleses eram como seres míticos e senhores do absolutos do futebol, posto que fossem seus inventores, numa época onde o Brasil (e não por acaso, alguns rubro negros, como Domingos da Guia, Leônidas da Silva e Zizinho) começava a reinventar o futebol. Guilherme Negueba me conduz a sonhos felizes com um futuro alvissareiro de títulos e vitórias. Mas a equipe, que já chegou às semifinais na Copinha, eliminando favoritos como Cruzeiro e São Paulo, tem mais do que isso. Tem um abusado reserva chamado Rafinha, goleadores como Thomas, Lucas e Adrian, além dos bons volantes Vitor Hugo e Luís Felipe (Muralha), os zagueiros, já requisitados pelo Luxemburgo para o time de cima, Digão e Frauches. Um bom goleiro chamado Cesar e o menino que jogou no último domingo, um abusado atacante chamado Romário.

O que estes meninos me fazem pensar é naquelas preliminares do Maracanã do fim dos anos 70, início dos anos 80, quando vi pontificarem nas equipes de juniores do Flamengo jogadores como Leandro, Mozer, o saudoso goleiro Zé Carlos, vitimado por um câncer em 2009, o zagueiro Figueiredo, vítima de uma terrível acidente aéreo, ainda nos anos 80, o vingador Anselmo, o volante Élder e Julio Cesar, campeões brasileiros de 1983, Gilmar "Popoca", jogadores que precederam a brilhante geração campeã do Copinha de 1990, que tinha Rogério, Júnior Baiano, Nélio, Fabinho, Marquinhos, Paulo Nunes, Marcelinho, entre outros. O fato é que estes meninos, que já chegaram bastante longe na Copinha, faltam apenas dois jogos para o título, representam uma boa geração formada no clube que tem hoje um equipe que pode ser muito boa para lançar estes novos valores. Ora, jogar com um ídolo da importância de Ronaldinho Gaúcho e do peso de um Thiago Neves pode ser o desafogo para um menino desses estrear no time de cima sem grandes responsabilidades, numa zona de conforto que pode ser a garantia de sucesso. 

Eu vi um novo céu e uma nova terra. E todos vestiam vermelho e preto, cantavam loas ao Deus Zico e  a todos os seus prepostos: o Deus da Raça Rondinelli, o Deus do Drible, Julio Cesar Uri Gueller, o paredão Raul, o Maestro Junior, deus do futebol jogado por música, Leandro, o "peixe frito", deus da bola dominada, o Deus das Cobras Criadas, o Neguinho Bom de Bola Adílio, todos os deuses rubro negros que um dia andaram sobre esta terra. E os deuses sorriam felizes, porque começava a surgir, aos poucos, mas de modo muito claro e inexorável uma nova era de domínio dos deuses rubro negros. Assim como eles herdaram de Leônidas, de Domingos da Guia, de Evaristo e Dida, de Zizinho, o posto de Deuses da Nação Rubro Negra, começava a surgir uma nova era divina, de brilho intenso e de poderio rubro-negro.

Quem viver verá!